Aproveitando o espírito festivalício aqui ficam mais umas:
Memórias de gajo da editora.
Em 2000 tive um ano em cheio de música. Só não fiz Vilar de Mouros porque estava lá a coqueluche Alanis Morissete e a editora foi em peso. Fora isso, sózinho passei pelo Sudoeste, onde vi os Oasis fazerem figura triste, acompanhei os muito profissionais (talvez de mais) e simpáticos Morcheeba e ainda conheci as Elastica e percebi porque é que o Damon Albarn escreveu o Tender na ressaca da Justine. Depois fui a Paredes de Coura para "tratar" de Mr. Bungle e Flaming Lips mas ainda faltava qualquer coisa.
Chego à Ilha do Ermal e só tinha uma banda com que me preocupar. Os DEFTONES acabavam de lançar White Pony e eram prioridade da Editora. Tocavam cá pela primeira vez e não sabiam para onde vinham. No primeiro dia do festival e a poucas horas de começar o rocane rôl ainda a estrada de acesso da produção estava a ser acabada.
Depois de algum paleio consegui a credencial e, avisado que eles ainda estavam no Porto, decidi dar uma volta para me ambientar. O sítio era (é) brutal. Ao voltar para o backstage vejo o Chino Moreno envergando passe que o identificava como fazendo parte dos Muse com quem tinha vindo à boleia do hotel. A organização não lhe devia conhecer a cara e ele estava-se cagando. Tratei de lhe arranjar camarim e não tarda chegou o resto do grupo e comitiva.
Os trés contentores em U davam directamente para a água. Cenário do cacete. Cervejas rápidamente passaram de mão em mão e, charro aqui charro ali toda a gente falava pelos cotovelos. Sentados à borda do lago, enquanto o Chino me contava o quanto gostava dos Smiths, via-mos ao longe os campistas assentar arraial. Pouco tempo passou até que eles olhassem de volta e reconhecessem os senhores cuja música vinham ouvir. Apesar da vedação e de pelo menos um guarda com cão, houve um fã que não resistiu e veio a nado tentar conhecer a banda. Acenava de longe e tentava manter-se à tona com o gajo do cão a avisar que não chegasse perto. A banda intercedeu e convidou para uma Budweiser. Ele era do Nuorte o que se percebia mesmo quando tentava agradecer em Inglês, escorrendo em fato de banho enquanto recuperava o fôlego. Sentou-se e foi bem recebido pelos ídolos. Bebeu até ao fim, e eu, pensando que gostaria que me fizessem o mesmo, arranjei um marcador e todos lhe assinaram a icónica garrafa americana que levou numa mão enquanto árduamente remava com a outra. Algum tempo depois volta a aparecer a nado repetindo-se a cena do cão, mas agora com uma máquina fotográfica dentro de um saco de plástico. Algumas gargalhadas e várias fotos depois foi-se já com a prova para os amigos que desconfiassem daquilo ter acontecido. Este episódio festivaleiro ainda se tornou mais cómico quando alguem reparou que o nadador dava uma "palestra" na margem do lago para um grupo de putos sentados no chão babados com a sorte daquele.
O concerto foi potente e eles gostaram de um público que não deu tréguas. Eu tambem gostei e assisti adrenalizado. Assim que acabou fui com o road-manager, o Steve Kidd, que me disse “I choose, you do the talking”. No fosso entre as grades e o palco, com corpos quase a transbordar de um lado, e do outro os gorilas da segurança, perguntava tímidamente “Olá, queres vir conhecer os Deftones?”. O lema “In it for the girls” ilustrou-se ali que nem ginjas. Elas respondiam qualquer coisa do género "Fodass claro como é que é?" e em cinco minutos tínhamos umas quinze moças (e um namorado) a caminho do camarim. Houve copofonia, entrevistas e confraternização enquanto esperávamos o concerto do Fred Durst e companhia.
Como o management era o mesmo e aprovou fomos todos. Os Deftones, as quinze gajas (e um namorado), os Blind Zero e os Muse que tinham tocado antes, enfim um verdadeiro bordel na parte de trás do palco. Apesar de não ser grande (nem pequeno) fã dos biscoitos coxos confesso que não me vou esquecer. 15 ou 20 mil pessoas aos saltos ali mesmo à frente enquanto tentava manter o equilibrio em cima de uma coluna do PA que partilhava com o vocallista de cabelo azul dos Muse ambos com medo do stage manager. Não acontece todos os dias (pelo menos a mim..).
No fim, depois de me despedir, entrei no carro e fui para Braga com medo de ser mandado parar pela BT.
A Editora já me tinha dado as re-edições do Curtis Mayfield e os Flaming Lips em Paredes de Coura e eu já não precisava dela para nada portanto fiquei feliz quando lá para Setembro me convidaram a sair. Na semana seguinte apanhei um avião e fui 20 dias para Nova Iorque onde tentei em vão ver os esgotadíssimos At the drive In. Caguei porque pelo menos consegui apanhar os Lambchop no Irving Plaza e ver as torres um ano antes do fim.
Os Deftones nunca mais os vi mas pareceram-me uns gajos porreiros.
No fim, depois de me despedir, entrei no carro e fui para Braga com medo de ser mandado parar pela BT.
A Editora já me tinha dado as re-edições do Curtis Mayfield e os Flaming Lips em Paredes de Coura e eu já não precisava dela para nada portanto fiquei feliz quando lá para Setembro me convidaram a sair. Na semana seguinte apanhei um avião e fui 20 dias para Nova Iorque onde tentei em vão ver os esgotadíssimos At the drive In. Caguei porque pelo menos consegui apanhar os Lambchop no Irving Plaza e ver as torres um ano antes do fim.
Os Deftones nunca mais os vi mas pareceram-me uns gajos porreiros.
6 Comments:
Ainda há gente com sorte.
cá para mim invesntaste isso tudo.
Lembro-me de contares esta história ainda quentinha.
Esta e outras...
Lindo!
olá Mara. tu tambem tens sorte.
anonimous peço perdão, realmente isto não foi bem assim.
Na verdade a história aconteceu nos anos oitenta, com a Linda de Suza num festival de um subúrbio de Paris. O fã a nada era realmente uma senhora de 60 anos, porteira de profissão, que tinha ido para lá em busca de uma vida melhor. Ah.. e a Linda de Suza não fumava charros.
Transformei a história porque achei que os deftones apelariam a um target mais jovem. É importante para um belogue deste calibre.
Zamota, hei-de escrever aqui mais umas.
Bela curta!
Mais aventuras roqueiras, brigitte! Mais!
eu estive lá
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