FEROMONA ACÚSTICO COM CONVIDADOS
Sábado à Noite, no Sítio do Cefalópode
Cephalopodo, se-fa-ló-po-do, s.m. T. zool. Ordem de molluscos cujos tentáculos estão inseridos em volta da bocca. (Gr. Kephalé, cabeça, e poys, podos, pé)
Havia à porta do bar um Ford Mustang cor de vinho que a má-língua diz ter sido alugado pela banda só para acabar de compor o ramalhete que já havia de convidados e impressionar os espectadores antes destes entrarem no bar. Espectadores animados, diga-se de passagem que também o público fez a noite. Um Mustang? Bolas, isso é que é dedicação!Um belo toque de mestre, devo dizer, seja ele da coincidência ou não. A cereja no topo do bolo.
O molusco, animal de corpo mole, invertebrado, é contudo um animal com muito carácter. Era sábado à noite e o faroeste lisboeta estava frio nos tentáculos do velho castelo. Juntamente com outros caubois tão ou mais loucos que eu, deparámo-nos com um pequeno bar que se chamava O Sitio do Cefalópode. Olhámos uns para os outros e entrámos. É um espaço acolhedor de luz amarelada e mesas baixinhas. Um bar escuro e requintado - poisado sob o balcão estava um pequeno objecto de madeira, uma casa com um pássaro desproporcional à sua frente, o objecto tinha um quê de japonês, e de cada vez que o cauboi pedia um cigarro respondiam:
-vai buscar ao passarinho.
Daí até perceber que por um toque de mágica aquele passarinho ficava com um cigarro no bico, foi outra história. - À frente do bar uma escadaria fazia de segunda plateia para a sala de concerto e ao fundo o palco estava já atulhado de instrumentos.
Da Feromona já nós sabíamos que apesar de ser uma substância produzida por um determinado animal para afectar outros animais, também sabíamos que estava diferente, era acústica, quiçá mais contida, pensámos. Foi tal o engano. E ali, naquela noite, seria o jazz com influências rock, ou rock com influências jazz a afectar os presentes?
-Definitivamente rock,
responderam-me, de sobrancelha arqueada.
E os tentáculos do molusco- prometidos convidados - eram:
José Castro com o Banjo Indiano que avivou as hostes no Vodka logo ao início,
João Roxo a dar um andamento marcado ao Mustang com o clarinete baixo.
João Pinheiro que sublinhou a delicadeza do conto infantil e improvisou no novo arranjo blues do Paquiderme Magrinho com o vibrafone,
Afonso Martins no já afamado violão e
Nuno Reis a dar um toque de pantera cor-de-rosa à coisa com o trompete.
Houve jam session com os convidados, o público estava feliz a conviver com a banda, tudo muito simples, directo, tu cá, tu lá. Um dos ambientes mais porreiros em que estive nos últimos tempos. Há que referir a ironia presente nas letras – a brincar, a brincar dizem-se verdades - e as influências que se fazem sentir, há ornatos, há palma, há mais coisas. Foi bem jogada a união com outras sonoridades. E mais uma nota muito especial para a música nova que logo me captou a atenção, A Dor e a Glória.
A sala, embora não estivesse cheia – cá entre nós isso não quer dizer nada, uma coisa é quantidade, outra é qualidade - estava composta o suficiente com a assistência bem disposta, de copo na mão e cigarro na ponta dos dedos, que se deixou afectar por este novo registo de Feromona.
Este tipo de ventura musical dos amigos dos amigos mais os amigos dos amigos bem podia continuar a acontecer de tempos a tempos.
Mas eu sou só um cauboi no meio de muitos que lá estavam, e não vos maço mais, além disso há terrenos por explorar e ali o meu jolly jumper está impaciente.
O resto foi dancing de Beatles, Janis Joplin e outras loucuras que tais, que como sempre, são dos que lá estiveram. Para os curiosos, cá vai um Lá Mi Ré:
Escada acima, escada a baixo, os caubois perderam chapéus, os índios ficaram sem setas, os passaritos perderam o pio, entraram os irmãos Dalton, transfigurou-se a suposta placidez da casa, e os cavalos, claro, andaram a monte…
E é assim que agora, depois da sesta dormida no refúgio quente do celeiro, cavalo alimentado e novo itinerário desenhado antes de adormecer, é aqui no lusco-fusco da trémula nitidez cerebral que se espera o regresso da Feromona, Rock com influências Rock, bem acompanhados pelos TV Rural. Não tarda nada, vai emergir uma outra noite filhadamãe, noite essa que já se adivinha repleta de índios, piratas, ladrões, camponeses e citadinos, quem sabe até vikings. Tudo uma promessa para o dia 3 de Fevereiro, lá para os lados de Mafra.
Saudações do cauboi
John wayne
22 Comments:
É. Diz que a música nova "é mais honesta"...
Foi a que ficou no ouvido do cáuboi.
Se a sala não estava cheia, porque é que eu não me conseguia mexer?
Bom, se calhar enganei-me no concerto!!!
Duarte Um Órgão
De onde eu estava a ver, estava tudo muito bem sentado, mas é verdade que quando subia as escadas mal dava para mexer, até acho que deixei gente sem cervejas.
Sim, também me pareceu que "cheio" é o termo adequado. Pelo menos, tendo em conta que havia gente sentada no chão, gente ao colo de gente, gente nas escadas, gente de pé... Ok, talve seja um termo exagerado: não estava tudo apertadinho como num concerto da Madonna, nem malta pendurada nos candeeiros...
As minhas desculpas. Eu estava tão confortável durante o concerto que nem sequer reparei nessas coisas. Só realmente se alguém se tivesse balançado nos candeeiros ou feito crowd surfing é que eu considerava cheio. Ninguém me pisou, portanto, não estava cheio. Depois do concerto, isso sim, estava cheio, que era uma carga de trabalhos chegar até ao bar...
Isso era porque tu ficavas na conversa a meio das escadas a impedir o caminho... Parecendo que não, também ajudou.
Pois, mas eu ficava na conversa com quem também estava a meio das escadas. Isso aliado ao facto de não estar a ver nada bem deve ter contribuido para a confusão que foi...
Ninguém diria que estavas a ver a dobrar... a mim parecias-me (quase quase) sóbrio...
eu vejo a dobrar por natureza. espero que não estejas a ser irónico...
Moi?!... No way...
Os meninos estão muito animados ahn!
Ele é que começou...
Bem, sobre isso decerto que discordamos.
Calma rapazes.
Eu estou calmo. Eu já me calei...
Porra, tanta conversa e ninguém diz bem dos meus ricos cartazes!??
Ó pá...
Fónix, calma... Gosto daquele do "portuguese rock'nroll". Só não percebo por que raio escolheste uma cena com a cara do Gonçalo da Câmara Pereira, mas pronto...
Eu gosto do cartaz do vizinho e dos ovos.
Tréguas temporárias, guitarrista, pode ser?
Já guardei a Winchester...
Bolas! Tu és um perigo.
Parabéns pelo texto!
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