domingo, fevereiro 05, 2006

BEM HAJAM, OH ANIMAIS DE PALCO, OH GUITARRAS CRUAS
D KID
TV RURAL
FEROMONA

Pavilhão polivalente do Sobreiro
Ali nos arredores de Mafra
3 de Fevereiro de 2006

A responsabilidade de escrever um texto sobre um concerto realizado no polivalente do sobreiro, a noite passada, é qualquer coisa de muito sério, principalmente quando o cáubói já foi acusado publicamente de raramente estar sóbrio. O que não é bem verdade, ele há dias e dias, mas a absorção dos acontecimentos não depende da sobriedade. E bem vistas as coisas a sobriedade não depende da quantidade de cervejas, uísques e afins. Vem de outro lado, mas enfim…Devo um pedido de desculpas aos Feromona, que o cefalópode estava cheio porque havia muitos colos, disseram-me. Eu, confortável que estava, nem olhei para trás durante o concerto. Mas eu sou um coração mole, vi no caminho vários moinhos que me lembraram o saudoso rocinante, também tenho os meus dias de tréguas e como tal, nem o coldre levei. Embora tivesse algumas armas escondidas nas peúgas. Afinal, há que estar alerta…

Era uma aldeia pequena, catita, aquela do oleiro das miniaturas, que diga-se pareceu-me ter espaço suficiente parar albergar cavaleiros errantes. Ou eu sou um liliput ou aquilo não é uma aldeia em miniatura…mas vale a visita, principalmente para as mentes mais lúdicas. Quando chegámos perto do pavilhão, assim na magic hour, no lusco fusco, alguns putos jogavam futebol no campo de cimento mesmo ali ao lado, e o pavilhão era grande sim senhora, era um pavilhão construído não há muitos anos atrás, linhas rectas, com potentíssima bancada. Assim que se arrumou o jolly jumper percebi que ia ser uma noite das antigas. Nada mais nada menos que um concerto com todas as letras em capitular, anunciava-se grande noite ao som de D Kid, TV Rural e Feromona.

A jantarada já anunciava a pré-proeza com brindes ininterruptos ao pessoal do som, pessoal do som, pessoal do som…..ao cozinheiro, ao cozinheiro, ao cozinheiro. E depois, assim que se desligou a música rádio,é que foi.

D KID
Foi o D Kid a aquecer no ritmar de novos compassos urbanos que já se fizeram nossos há muito tempo, e havia alguém de dizer outra coisa?
D kid promete, é simples e põe o pessoal a mexer.


TV RURAL

Entretanto sobem ao palco os TV rural.
Pequeno interregno sobre os mesmos:
Os Tv Rural, banda de longos anos, banda volátil que se adapta mais facilmente do que às vezes se possa indagar, banda que tem influências de tudo e mais alguma coisa, e ainda bem, é banda com um som novo, muito difícil de classificar. E agora, balde para a baba, passamos ao que sucede quando os Tv tocam. Eles sobem ao palco assim como não quer a coisa. Assim como um amigo que bate por trás no ombro esquerdo mas aparece no flanco direito a reclamar toda a nossa atenção.
E depois não há volta a dar, aguenta-te à bronca porque nem sequer vais querer sair. . Esta banda, meus caros, está mais que preparada para o seu primeiro álbum. Esta banda, meus caros, às vezes custa saber que não o tem editado. Esta banda, meus caros, não deve parar.

A novidade da recuperação dos clássicos pairava no ar. O palco e a luz faziam jus ao espectáculo, se alguma coisa corresse mal seria por falta de público ou de performance. O público não se conta a dedos, porque convenhamos, se estivermos à espera de ter uma sala cheia onde não há tradição de concertos de som novo, não vamos a lado nenhum. É assim que as coisas ocorrem e começam a criar raízes, mas isso é outra e muito longa conversa. Ele foi ver as hostes a mexer, espíritos sedentos do rock a bombear, sentia-se o Chico, o que for, a herança portuguesa ou o que há de novo em 2006 aqui, agora. Há isto, que ali não havia mais limites para nada, sobretudo com a qualidade das letras e arranjos, vozes masculinas em coro, as duas guitarras a puxar a puxar, a bateria sempre bem, marcada, robusta, a grande pausa do baixista David, um vocalista aos pulos, a provocar quem o ouvia, oh animal de palco! O Notas,repescado, ai o notas! E uma versão do Jorge palma, Essa miúda, que comoveu o bando…
YOU ROCK, môsputos!




FEROMONA


E os Feromona a seguir.
Nervosos ou talvez não, depois da descompressão ruralesca em terras de sobreiro. Subiram de mansinho e foi ver o culminar da grandessíssima viagem nocturna. A música mudou de tom. Power trio cheios de garra, contagiados pelo público, já em transe. A simultânea crueza e singeleza das músicas a ganhar terreno. Estavam espaçados no palco, a bateria é o centro, vocalista/guitarrista à esquerda, baixista à direita, e os corpos, à frente, deixaram-se levar nessa viagem por estradinhas de alcatrão rebentado na ruralidade vicentina com o belo Mustang. No conto infantil, mais uma vez, João Pinheiro sobe a palco com Feromona e não podia funcionar melhor. O vibrafone vai aos lugares menos óbvios que a música tem. Envolve. O Paquiderme Magrinho, simples, vai exigindo mais e mais do público. Banda com uma presença muito cool, ora essa! Depois dos clássicos Feromona, e da nova,A dor e a glória, a tal que não é honesta, é verdadeira, ou genuína ou pura, eu cá só sei que arrepia na parede do estômago.


Há um remate final, num inesperado movimento, sobe ao palco Vasco Viana de TV rural. AH GRANDE VASCO! Pim! AHO AHO! É mesmo assim, duas guitarras, baixo e vibrafone, num improviso muito AHO AHO! Gritos da multidão. Raw, Raw, gritava-se. FIFUFIUUUU! Espaço para percorrer os vários metros de largura de palco, soalho fora, em pulos, movimentos de braço descontrolados de corpos dançantes, em quebrada sintonia. Foi uma daquelas noites. Condições de palco excepcionais, do ponto de vista de quem vê, que eu cá não falo por mais ninguém. Uma iluminação filhadamãe. Depois de uma noite destas não é a quantidade das pessoas que lá está que conta, é a qualidade do que acontece.

E aconteceu tão bem. Agarrem-se a este fio, que a meada adivinha-se longa, e a bola está do vosso lado.
A quem a perdeu, o meu lamento, e pela parte que me toca, obrigado a todos e um até breve.
Saudações



P.S.: É natural que a ordem das músicas de que falo não seja a do set.
P.S.: Músicos, se algum de vocês perdeu uma peça castanha pequena, em semi círculo, que deve ser de uma guitarra ou de um baixo, imagino. Diz TROLA CATCH e RIEGEL 682...Sou eu que tenho.